Após ser chamado de golpista por Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o ex-presidente Michel Temer voltou a se pronunciar sobre a fala durante entrevista para a Rádio Band News, nesta quinta-feira, 26. O cacique do MDB afirmou que o atual presidente já havia falado em vários momentos sobre golpismo durante a campanha presidencial, mas preferiu ignorar. Com a insistência sobre o tema, Temer agora dá uma dura resposta à acusação do petista, diz que “não será abusado” e, de acordo com a rádio, ameaça “falar umas verdades sobre o que o PT fez e não fez”. “Não é de bom tom que um presidente da República vá para outro país falar mal de ex-presidentes. Aliás, nem deve tratar de assuntos internos quando vai ao exterior. Com isso, ele prejudica a própria imagem do país. Supra não ser elegante, é inapropriado para um chefe de Estado que vai em outro país para falar mal do país ou dos ex-dirigentes do seu país”, avaliou. Sem citar o nome de Lula, o emedebista lembrou que já foi secretário de Segurança Pública (em São Paulo, três vezes entre 1986 e 1993) e, portanto, “sei lidar com bandidos”.
Para Temer, as críticas “fazem parte do jogo político”, mas levar o tema para o estrangeiro passa do limite. Além disso, o ex-presidente voltou a repetir os argumentos utilizados em nota publicada na quarta-feira, 25, em que rebate as falas do petista. No texto ele diz que Lula insiste em “manter os pés no palanque e os olhos no retrovisor”, numa tentativa de “reescrever a história por meio de narrativas ideológicas”. “Eu jamais usei de palavras agressivas, ao contrário, sempre preguei uma certa conciliação do país, uma certa paz. Eu não vejo, lamentavelmente, o presidente fazendo isso. Eu esperei muito tempo para dizer agora basta, agora chega. É insuportável que se fale em golpismo em um governo que, na verdade, naquela oportunidade, recuperou o país de uma crise enorme”, defendeu.
A série de declarações vem após a fala de Lula nesta quarta-feira, 25, no Uruguai e ao lado do mandatário local, Luis Lacalle Pou, em que o petista comentou sobre a situação do país pós-saída do Partido dos Trabalhadores do poder — ele afirmou ter assumido um país “semidestruído”. “Quando deixamos a Presidência o Brasil era a sexta economia do mundo, agora voltamos e o Brasil é a 13ª. Isso significa que tudo que fiz de política social durante 13 anos de governo foi destruído em sete anos. Três do golpista Michel Temer e quatro do governo Bolsonaro“. A manifestação presidencial não foi bem recebida por integrantes do Congresso, e o petista pode, inclusive, ser alvo de um pedido de impeachment na Câmara dos Deputados. O deputado federal Ubiratan Sanderson (PL-RS) criticou a fala do presidente e afirmou que seu posicionamento “atenta contra os Poderes e contra a Constituição Federal” — já que o afastamento de Dilma Rousseff foi chancelado pela Câmara dos Deputados, pelo Senado Federal, enquanto representantes do Legislativo, e pelo Supremo Tribunal Federal, enquanto instância máxima do Judiciário. A situação que por si só impõe a abertura de impeachment pela flagrante prática de crime de responsabilidade”, defendeu o parlamentar.